Há tanto para fazer, dançar, viver, ver... Há tão pouco tempo para se perder"
Uma das minhas pessoas prediletas no mundo é também feliz. Não o tempo todo, não do jeito que eu considero que a felicidade é sentida ou exposta, mas bom, eu o acho muito feliz.
A únicas vezes que o vejo triste, estressado, é pela fadiga. Quando o vejo assim e questiono, é sempre a mesma resposta: “meus dias são iguais”. Com o tempo, passei a perceber que não se tratava de um ódio por rotinas, o buraco era mais fundo; ele não tem problema em assistir filmes ou séries diariamente, ou seguir os mesmos caminhos nos fins de semana.
Seu problema são trajetos, longos trajetos de bicicleta até o trabalho (faça chuva, faça sol), viagens que duram mais de uma hora para ir e voltar da universidade em outra cidade, e até mesmo, as responsabilidades chatas que estes locais envolvem.
Creio ser besteira escrever sobre como cada vez mais tenho o compreendido e sentido o mesmo. Afinal, todos têm essa rotina, não? Outros até mesmo rotinas piores, com mais horas de serviço, mais responsabilidades; há gente que cuida da casa, de filhos, tem mais de um emprego, menos horas de descanso, sem fins de semanas livres ou até mesmo, não há sequer uma paixão na vida para tentar abrandar esse pensamento, essa sensação que rapidamente te deprimi.
Na verdade, tenho consciência que só pelo fato de eu poder exercer um hobby, uma paixão, e poder ver alguém que amo diariamente, já não deveria reclamar ou me chatear tanto. Contudo, cada dia que passa, tem sido mais... Sufocante.
Sinto que estou perdendo meu tempo. Há muito o que pensar, muito o que fazer, muito o que aprender; e sinto que mais de uma hora para ir e voltar da universidade, mais as quatros horas de aula, depois mais algumas horas do trabalho, só têm me feito perder tempo.
Ora, eu sou uma jovem, eu tenho sonhos e planos, mas eles são sufocados por essa sociedade capitalistas e as obrigações idiotas dela. Eu penso, bom, eu preciso de dinheiro, preciso do diploma para poder alcançar essas coisas pelas quais tanto anseio, e no final das contas, me distancio delas.
Minha verdadeira paixão, o ballet, eu finalmente consegui dar certa prioridade e muito me alivia, acho que dançar são as ondas calmas que chegam até à baía da minha vida; é meu alento, minha paz e o momento do dia em que me sinto salva.
Porém, o resto ainda me incomoda. Esses dias faltei da aula, e me senti tão melhor comigo mesma, mais segura, mais confortável, consegui utilizar meu tempo para o que realmente me interessa... Ah se todos os dias pudessem ser assim, e ah, se eu ganhasse dinheiro magicamente de fadas!!!
Quiçá seja essa a dor de se perder a infância, aquela saudade perpétua e inconsolável de ser criança. Mesmo com a escola, o fato de eu ter paz comigo mesma, poder ser eu genuinamente, gostar de mim e fazer somente o que me faz feliz. Que maravilha poder passar os dias assistindo “Moranguinho“ e “Charlie & Lola”, que alívio não sentir culpa ou medo o tempo todo, que fascinante poder bradar aos quatros ventos que eu acredito em fadas! Ou caçar lobos e o passar horas e horas estudando sobre arco-íris e o que há no final deles; ou como construir uma casa para gnomos, elfos e duendes ou quais as florestas mais mágicas do mundo. Poder passar tardes dançando e cantando, pulando, construindo casas, sendo livre, VIVENDO! Isso sim era VIDA!
Quando perdemos essas coisas?! Quando foi decidido, e por que foi decidido que adultos deveriam ser infelizes e frustrados?! Essa (nosso berço, o princípio de nossas vidas) é a nossa essência genuína, nossa alma! Não isso que se tornar mais velho nos oferece. O mundo é cruel, eu sei, mas por que permitimos que ele seja assim?!
Nunca quis mudar o mundo, ainda assim, me pego pensando o que faria para mudar essa realidade para mim e para ele, que está tão perto de mim e sofre do mesmo. “Dói”... Tenho repetido muito isto, para ele, para minha psicóloga, por vezes até para os meus pais quando me inquieto; dói. Dói respirar. Mais do que o considerado saudável eu penso, eu desejo, parar de respirar.
O pior é que considero estranho quem NÃO pensa em parar de respirar. Faz anos que devaneio sobre morrer, sobre a morte, talvez por isso para mim é como adormecer, em um momento você está ali, em outro não, e só isso. Não há dor, angústia ou sufoco. É a liberdade plena...
A verdade é que gostaria de ser só espírito, ou até menos que espírito; ser rosa, begônia ou papoila avermelhada, ser o pingo de água que escorre de suas pétalas para o caule para o chão... Ser tão suave, tão inebriante, onírica, etérea... ser tão irreal quanto esta gota.
Provavelmente não ter uma mente tão pensante me livraria de tantos sufocos, porventura, por mais pungente que seja viver no mundo com um cérebro, poder ter noção do que realmente quero, penso e posso fazer, ter noção sobre a minha pessoa, é a parte boa de estar aqui.
O problema são os externos, faculdade, trabalho ou qualquer outro incômodo que te tira do seu mundinho; pode ser a coisa mais importante do mundo para ti, se não for para o mundo ou para a sua chefe, ou pro seu diploma, então você tem que deixar para depois. E isso é tão irritante!
Há mesmo tanto para fazer, dançar, ler, flores para cheiras, viver, ver, aprender, realizar e eu só quero estar fazendo isso. Tenho consciência e agradeço a Deus por eu ter a oportunidade de fazer um pouco mais do que gosto, de ainda assim conseguir priorizar o que me importa... Só gostaria de mudar isso no mundo para todos podermos viver só para o que amamos, ou mais intensamente para estes sonhos.

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