Antes que o café esfrie: uma viagem no tempo para o coração
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| (Foto por Maria Luiza Weiss) |
"Antes que o café esfrie" de Toshikazu Kawaguchi foi um livro que me pegou de jeito. A primeira vez que eu o vi foi por uma recomendação de uma amiga no stories do seu Instagram, e a palavra "café" no título e sua capa me deixaram muito curiosa e fiquei namorando o livro por um mês até comprá-lo em uma promoção da Amazon Prime Day.
Acho que o mais interessante da história são as regras do café de 100 anos Funiculí Funiculá, que nunca passou por mudanças e mantém em tacta sua tradição e lenda de poder fazer com que pessoas viagem no tempo. Uma das regras é de que não importa o fato de você viajar no tempo, nada que você faça irá mudar o destino; coisa totalmente inovadora das histórias de viagem no tempo que estamos acostumados a ver. Além de que há um limite de tempo para você ficar no passado (ou futuro), que é o limite para o café esfriar.
Nessa história conhecemos quatro protagonistas que viajam no tempo, cada um por seu próprio motivo, seja um amor perdido, uma carta secreta, a morte de um ente querido ou querer conhecer alguém que nunca poderá. Contudo, o mais importante do livro não é o motivo pelo qual a pessoa viajou no tempo, e sim, o que acontece depois de ela viajar.
"Eu estava tão concentrada no que não dava para mudar que me esqueci da coisa mais importante".
Afinal, por que alguém viajaria no tempo se nada seria mudado? Pela leveza que fica. "Antes que o café esfrie" é um livro fresco, gostoso de ler, lírico e principalmente sensível. É um livro que não é feito para ser devorado e sim degustado, apreciado, compreendido.
Escrito inicialmente como uma peça teatral, foi adaptado para romance em 2015, por isso de início a forma como é narrada pode ser confusa. Embora, eu aprecie ela ser em terceira pessoa já que há muitos detalhes que possivelmente não seriam percebidos caso em primeira.
"O presente não tinha mudado -- mas essas duas pessoas tinham. Tanto Hirai quanto Kohtake voltaram para o presente de coração mudado, prontos para seguir em frente".
Com a história é perceptível que mesmo não mudando o destino, o seu coração muda, é quase como um alívio, um pranto ver os personagens serem curados a partir de suas viagens, compreendendo a verdade de seus corações e de outrem, e por isso o fato de o futuro não mudar, se torna ainda mais delicado, pois é mostrado que quem precisa mudar é nós mesmos por dentro, e não o que acontece. Nós que temos que nos curar, não as facetas do que nos acontece.
A medida que as cenas passavam, mais você compreendia o porquê de cada uma delas e porque tais personagens agiam da forma que agia, e o motivo de precisarem voltar ao passado. É impossível ler e não se sentir preso aos sentimentos deles e seus relacionamentos, e muito menos, não conectar uma cena a outra.
"Antes que o café esfrie" ganhou sua continuação "Antes que o café esfrie 2: Novas e emocionantes viagens no tempo" que parece tão amável quanto o primeiro, por isso defendo que todos, principalmente aqueles que gostariam de voltar ao passado para resolver algo interno, deveriam ler este livro. Pois, ele é como um consolo, uma válvula de escape nos dias corridos, para curar aquilo que está martelando em nossos corações e podermos nos perdoar.
"A água escorre dos lugares altos para os mais baixos. Sempre. É a natureza da gravidade. As emoções também parecem agir de acordo com a gravidade. Na presença de alguém com quem se tem laços, a quem você já confiou seus sentimentos, fica difícil mentir sem que o outro perceba. A verdade simplesmente quer fluir, se libertar".



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