Begônias e Edelvaisses -- um turbilhão, uma tempestade


    
Ando tão perdida, é como se o mundo todo estivesse consumindo até mesmo minhas entranhas e eu sufocasse enforcada por este bolo que se formou de carne, pele e órgãos; minha boca, meu cérebro e meu coração ficaram soterrados ao fundo desse emaranhado de dor e outros sentimentos.
    Estou confusa com tudo, estou com medo principalmente. Me disseram que "coragem" remete a mim para essa pessoa, todavia, não creio poder concordar. Sinto-me uma covarde, não, Covarde, com 'C' maiúsculo. Não sei o que estou fazendo da minha vida e muito menos o que deveria fazer... Não, estou mentindo, eu sei o que devo fazer: devo ir na academia três vezes na semana (no mínimo), devo voltar a estudar francês e praticar meu alemão, devo voltar a dançar, arrumar um novo emprego e fazer pilates, devo emagrecer e ser feliz!
    E no entanto, pareço uma criancinha presa no fundo de um poço com medo de olhar para cima e ver o pontinho de luz, porque ele está longe demais e será difícil alcança-lo. 
    Minha professora disse que sou incrível, "grande", e que não tenho noção disso; quiçá ela esteja certa -- sobre a parte de eu não ter noção --, porém, tenho minhas dúvidas... Meu namorado também diz ter orgulho de mim, que eu sou "incrível" -- esse "incrível" tem me perseguido e, ironicamente, me vejo cada vez mais longe dele. 
    A verdade é que já não sei mais quem sou e por isto criei este Blog, pois no meu íntimo reconheço que preciso mudar, recomeçar do zero; infelizmente não sou herdeira então não posso tirar férias e fugir para o campo na Alemanha, mas pelo menos existe o blogger, onde posso fazer o que eu (espero) ser o que ainda me faz mais feliz que tudo: escrever. E desabafar rs.
      Foi com essa tentativa de me reencontrar que escrevo esse primeiro post, são pequenas coisas, coisas triviais, quase ordinárias, entretanto, que de algum modo, fazem eu encontrar amor na vida:

- O aroma agridoce do cappuccino, a textura da canela derretendo sobre a minha língua, o calor da xícara em dias frios e o carinho que aquece-me todos os dias.

- A maciez e o aconchego de uma pelúcia, as memórias (velhas e novas) afetivas, como elas estão ao meu lado para me apoiar nos piores dias.

- Envelopes, selos, carimbos, adesivos, papéis decorados e tudo relacionado à cartas (principalmente de amor e dos meus avós).

- Botas de Cowboy, a textura do couro, os detalhes, as cores (vermelho e marrom são as melhores), e sapatilhas: delicadas e femininas, remetendo à bonecas e bailarinas.

- O odor de livros velhos, dedicatórias, datas de início de leitura, páginas desgastadas de tanto folheadas, manchadas de café e lágrimas, folhas todas amareladas.

- O ócio ao lado do meu namorado, os dias bonitos de conversa e silêncio.

- Os olhos brilhantes e pueris do Juliano, o seu riso brincalhão e as mordidinhas envergonhadas ao receber um presente; suas covinhas.

- A luz que atravessa as janelinhas do meu quarto durante o meio da tarde. E claro, tardes de primavera.

- Os meses de novembro, outubro, setembro, maio e abril e como são românticos, leves e fluídos, sinônimos de "serenidade".

- Perfume de quarto limpo.

- Qualquer perfume, shampoo, creme da Johnsson's ou Giovanna Baby, sabonetes da Giovanna Baby, body splash e tudo que é cheiroso.

- A caneta vermelha que Ju me presenteou e só gosto de escrever com ela, especialmente cartas e no meu diário.

- O olhar sério e atento do meu amor e seu sorriso ao ler uma carta ou ver um vídeo ou imagem que fiz para ele.

- O chocolate derretendo na minha boca; enfeitiçando, hipnotizando e lambuzando meus beiços.

- As pétalas no ápice do carmesim ou alvas como a neve, de uma flor. Especialmente Begônia e Edelweiss.

- A visita de uma Joaninha e tudo o que ela representa para a minha família.

- A visita dos meus tios em meus sonhos.

- Dias com meus avós e o riso de Cecília.

- Os nomes Maria Aurora, Artur, Maria Amélia.

- Asas de libélulas como obras de arte.

- As palavras de Woolf e Lispector, e a poesia de Meireles.

- O fato de Kafka, Bouguereau e Monet terem existido e criado.

- ANNE DE GREEN GABLES - e como eu sou ela.

- Tubarões e lobos poderem ser agressivos e perigosos, e leais e amorosos. A inocência e esperteza de um cervo como reis da floresta.

- A voz de Chico, o som de Enya, o canto de IU, as letras de Taylor e as melodias de Tchaikovsky, como eles fazem nossa alma transcender e nossa mente devanear.

- O escrever no papel e em uma máquina de escrever, como não sou eu ali, só meu espírito dizendo o que verdadeiramente sente, lapidando um sonho, criando uma nova existência de amor e paz, de vivacidade, de rosa e carmim, fantasma meigo e melancólico, que dança e poetisa sobre as palavras pintadas na folha.

- O Ballet, especialmente "Giselle" e sua conexão comigo. Os figurinos, a sapatilha de ponta, roupas de alongamento, pas de deux, Belle de bois au dormant, Titânia, La Sylphide, orquestras inteiras para os espetáculos, dramatização e beleza.

- O som do violino, do violoncelo e da harpa, como parecem as liras dos anjos na Terra.

- Vestidos e saias brancas e rosas, fluídos e campesinos, de princesas e menininhas róseas primaveris.

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